Por Eduardo Galvão
Vincent-Immanuel Herr e Martin Speer são dois jovens ativistas europeus que têm trabalhado nos últimos 3 anos em projetos de integração europeia. Eles contam que suas viagens de trem por toda a Europa os transformaram de “europeus em teoria” para “europeus por experiência”. Durante essa jornada, também perceberam que ter essa experiência continental e sentir-se europeu de fato era inviável para muitos jovens por não terem acesso e recursos para viajar. O sonho da Europa unida não era realidade para uma geração que não podia pagar por isso.
A ideia do #FreeInterRail surgiu numa mesa de jantar em Viena. A proposta de política pública e sua campanha começaram com indivíduos da sociedade civil demandando da Europa um programa de acesso livre para mobilidade pelo continente para jovens europeus. Além de garantir aos futuros cidadãos europeus acesso à diversidade europeia a ideia ainda tinha como objetivos: aumentar a mobilidade de trabalho dos jovens, promover acesso igualitário para uma experiência europeia, combater o desemprego entre jovens promovendo acesso a diferentes mercados, promover o intercâmbio e as relações interculturais, aumentar o interesse dos jovens europeus pelas instituições e pelos processos políticos e promover a união dos europeus para além de fronteiras e gerações.
Os jovens botaram a ideia no papel e iniciaram sua campanha de lobby perante os governos e autoridades da Europa. Em março de 2018 a Comissão Europeia anunciou a implementação do primeiro projeto piloto para melhorar a mobilidade dos jovens europeus. Com base na proposta deles, todo cidadão europeu ao completar 18 anos recebe uma carta pessoal da Comissão Europeia com uma nota de felicitação e algumas informações básicas sobre a mobilidade no continente, juntamente com um voucher de concessão de viagem de de 1 mês de trem grátis, válido por 6 anos. A política denominada DiscoveryEU permite que 15 mil cidadãos europeus com 18 anos viagem para explorar e conhecer seu continente no verão.
Vincent e Martin são o que se chama de citizen lobbyists, termo cunhado pelo professor Alberto Alemanno, um italiano professor de HEC Paris/NYU empenhado em democratizar a democracia e que dirige The Good Lobby em Bruxelas, uma start-up cívica, que conecta acadêmicos e profissionais a organizações sem fins lucrativos para fazer com que sua voz seja ouvida.
Seu livro Lobbying for Change ficou famoso no mundo por defender o conceito citizen lobby, em contraponto ao lobby institucional, corporativo. Alemanno defende que a participação social na definição de políticas públicas não está restrita às instituições e é um direito de cada cidadão. Em seu livro ele conta diversos casos de pessoas que utilizaram seu ativismo para transformar sua realidade e causar Impacto social. O The Good Lobby inclusive criou um prêmio chamado The Good Lobby Awards, uma celebração anual de projetos, iniciativas e campanhas lideradas por cidadãos comprometidos em fazer lobby por mudanças sociais. Lembram dos jovens Vincent e Martin? Eles foram os vencedores desse prêmio em 2018 na categoria Citizen Lobbyists.
Alemanno diz em seu livro que existem muito mais lobistas em nossa sociedade do que imaginamos. Na maioria das vezes o nome do cargo não reflete a sua atuação. OI CEO é também um lobista para sua companhia, pois ele representa e defende seus interesses na área pública. O mesmo se pode dizer de um professor atuando por sua escola ou um ativista voluntário de uma ONG para sua causa. Todos eles falam e agem por suas instituições e defendem seus interesses.
Muitas vezes o trabalho de uma pessoa envolve tarefas de lobby e ela nem se dá conta disso. Todos nós fazemos lobby de alguma forma. É isso que se espera de nós em uma sociedade onde há mais e mais interesses para serem levados em conta, diz Alemanno.
E cita J.K. Rowling: “We do not need magic to change the world. We have the power inside ourselves already: we have the power to imagine better”.
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